03. A polifonia social dos cravos em Saramago

Autores

  • BITTENCOURT, Roberto Nunes (UniSignorelli)

Resumo

     O escritor Milan Kundera, em um de seus textos ensaísticos, sugere que a polifonia na literatura é um conceito que não está preso à linguagem musical. Se trata, pois, de uma multiplicidade de discursos que podem ou não estar presentes em uma peça ficcional. Quando tratamos de um texto teatral, em que o autor concede a cada um dos personagens sua própria voz, com léxico e densidade psicológica e social, é muito mais fácil perceber quem são aqueles sujeitos, que tipo de semântica sua própria economia pode nos revelar dentro de uma obra. No texto teatral A Noite, de José Saramago, temos uma oportunidade ímpar de perceber essa multiplicidade de vozes que compõe o mosaico da Portugal da Revolução dos Cravos. Em poucas páginas, com personagens que trazem consigo a ambição de reunir os principais arquétipos sociais daquele tempo, o autor português nos evidencia quais discursos políticos estavam em marcha e como eles se chocaram no momento exato que a revolução que mudou completamente a sociedade portuguesa se deflagrou. Sua obra permite uma análise, não tão singela, de que mensagens esses grupos sociais e esses personagens evocavam dentro de um cenário que permite desde o simples ator proletário ao mais elevado tipo burguês, com suas inevitáveis defesas de um ideário de mundo que estava em erosão para imprimir ao antigo império português uma faceta inteiramente divergente. 

Palavras-chave:

Polifonia. Crítica social. Revolução dos Cravos.

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Publicado

15-09-2024

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Seção

Artigos